O velho e sábio ditado já dizia: na luta do rochedo com o mar, quem se
ferra é o marisco. Pois é isso que está ocorrendo em Guarujá, com a
retirada, desde o último sábado (12), de um ônibus da linha cinco, que
atende dezenas de moradores dos bairros localizados numa área conhecida
como Rabo do Dragão – que se estendem às margens da Rodovia Ariovaldo
Viana (estrada Guarujá-Bertioga).
Após receber inúmeros telefonemas, a reportagem buscou informações sobre
quem seria o “pai” da iniciativa e acabou se deparando com uma situação
inusitada: a Prefeitura afirma que a retirada foi a pedido da
Translitoral que, por sua vez, garante que foi a pedido da
Administração. No final, é a população que vem sofrendo.
A concessionária do transporte público em Guarujá diminuiu um veículo
durante o período diurno, dos três que operam a linha. O fato se agrava
porque, segundo os moradores, além de aumentar o intervalo entre os
carros, no período noturno, a empresa passou a colocar apenas um carro à
disposição dos moradores da região, que não têm condições de bancar
outro meio de locomoção. O resultado não podia ser pior: no mínimo uma
hora de espera.
Sem qualquer consulta pública, dias atrás, a empresa andou distribuindo
um panfleto dentro dos ônibus sobre a mudança, que vem acarretando a
perda da integração das passagens, obrigando a população a pagar uma
segunda tarifa.
Pontos cheios
Falta de passageiros não existe. Desde sábado (12), inúmeros moradores
vêm ligando para a redação do Diário do Litoral (DL) reclamando que a
iniciativa acarretou prejuízos, tornando a vida dos usuários um
verdadeiro inferno. Muitos estão perdendo consultas médicas, atrasando
no trabalho e na escola. Outros chegam no serviço estressados por serem
obrigados a viajar de pé e apertados.
Na última terça-feira (15), no plenário da Câmara, o vereador Luciano
Lopes da Silva, o China (PMDB), do mesmo partido da prefeita Maria
Antonieta de Brito, foi o único parlamentar a se mostrar sensível à
situação. Ele apresentou um requerimento pedindo providências urgentes
e, principalmente, exigindo detalhes da reunião entre a Prefeitura e a
empresa que decidiu pela retirada de parte do transporte.
Em área às margens da Rodovia Ariovaldo Viana, linha deixa de atender moradores (Foto: Luiz Torres/DL)
Mais do que se manifestar na tribuna da Casa, China resolveu ir até o
Rabo do Dragão, onde colheu o depoimento de mais de 50 pessoas, que se
aglomeravam em um dos pontos da rodovia. Ele também conversou com
motoristas. “Estão castigando gente trabalhadora, que precisa do
transporte para ganhar o pão. Isso não se faz. Vou lutar para reverter
essa situação, nem que precise usar a Justiça”, disse o vereador, que já
foi responsável pelo Procon de Guarujá.
Ação
Não é de hoje que China busca melhorias no transporte público. Em julho
do ano passado, ele ingressou com uma representação no Ministério
Público (MP) solicitando ao órgão a assinatura de um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) que obrigasse a Translitoral a cumprir o
básico: o contrato realizado com a municipalidade.
O vereador resolveu tomar para si o papel que deveria ser da Prefeitura,
que é o de zelar pelo cumprimento do contrato em sua totalidade e não,
segundo informava ao MP, de forma equivocada e parcial. Cinco dias
depois da denúncia, a 4ª promotora de Justiça, Silvia de Freitas Denari,
encaminhou ofício para a Prefeitura e para a empresa para que enviassem
respostas para os problemas levantados pelo vereador que apontava,
entre outras coisas, falta de higiene nos veículos. “Até fezes nos
assentos dos ônibus estão sendo encontradas de forma a impedir o uso do
transporte e tornar insalubre a viagem, em total desrespeito aos
usuários”, revelava o vereador no documento.
Abrigos
Ele informava que existe um decreto municipal (8633/2009) que obriga a
empresa a manter 338 abrigos cobertos na Cidade. No entanto, a
Translitoral só possui 218. Além disso, a empresa não estaria cumprindo a
obrigatoriedade de informar os itinerários e somente uma linha possui
veículo com elevador para acesso de deficientes.
China afirma que a Translitoral ainda seria obrigada a ter os pontos
sinalizados, com placas informativas contendo o percurso de cada uma das
linhas, horários dos ônibus e intervalos dos coletivos, bem como
informar o telefone do Procon e locais de recarga do cartão transporte.
“O fato é que os usuários continuam sofrendo com o transporte lotado em
horários de pico, há poucas linhas em funcionamento, falta informação e
de linhas que atendam os deficientes, dificuldades na compra de passes
escolares e outros problemas”.
China também preiteava a redução das tarifas mas, ao que tudo indica,
nada mudou. Hoje, o morador de Guarujá e Vicente de Carvalho paga R$
2,90 – um dos bilhetes mais caros da região. Em muitos pontos, o cidadão
pega chuva e os ônibus continuam em péssimo estado de conservação.
Agora, ainda falta carro.
Translitoral e Prefeitura
Procurada, na ocasião, a Translitoral, por intermédio de sua Assessoria
de Imprensa, resumiu alertando que estava respondendo a todos os
questionamentos diretamente ao Ministério Público. Já a Prefeitura de
Guarujá disse que o Departamento Jurídico não havia recebido a
representação do MP e, por desconhecer teor, não tinha como se
manifestar sobre o assunto. Nem a Administração, nem a empresa
manifestaram preocupação com os usuários.
fonte: http://www.diariodolitoral.com.br/conteudo/32684-moradores-do-rabo-do-dragao-reclamam-da-retirada-de-um-coletivo-da-linha-5