Ermida do Guaibê: patrimônio histórico e descaso secular

Está literalmente enterrada
entre a vegetação e o descaso do Poder Público e das instituições
responsáveis pela conservação do Patrimônio Histórico. Malgrado as
poucas iniciativas tomadas (Ministério Público Federal - leia abaixo), a
situação permanece quase inalterada. Quase, porque quando lá estive,
notei a ausência de pedras seculares que faziam parte do portal da
igreja - roubadas não se sabe por quem. Também havia um novo barraco em
construção, diga-se, em local onde se pretende criar o Parque
Arqueológico São Felipe. É lamentável o ritmo das iniciativas públicas.
Qualquer empresa privada que tralhasse em tal velocidade, estaria fadada
ao fracasso. E parece-me ser este o destino da Ermida - o fracasso, o
que, no caso, é seu total desmoronamento.
Construída
por volta de 1560 (afirma-se também que foi entre os anos de
1563/1565), por José Adorno, a Ermida que, no século XVII, já foi
chamada de Capela de Santo Antônio da Armação, tem suas ruínas
localizadas no extremo nordeste da Ilha do Guaíbe ou Santo Amaro
(Guarujá). A importância histórica dá-se pelo fato de que naquela região
ocorreram acontecimentos marcantes para a história do Brasil. Ali
desembarcou a armada de Martim Afonso de Souza, dando início ao povoamento da Capitania de São Vicente. Ali ocorreram os grandes conflitos entre portugueses, tupiniquins e tamoios, interrompidos graças à intervenção dos jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega.
A Ermida, afirma-se, é um patrimônio setecentista, embora muitos
estudiosos acreditem tratar-se de ruínas remanescentes de uma capela
construída no século 16, onde José de Anchieta e Manoel da Nóbrega
pregavam e catequizavam os índios. Ali afirma-se, José de Anchieta teria
escrito seu célebre poema Milagre dos Anjos.
A
Ermida jaz em completo abandono, sem que o Poder Público adote medidas
para sua recuperação e preservação. Há uma trilha pela qual se chega até
o conjunto arquitetônico: um muro secular que traça o entorno da Ermida
e a capela propriamente dita, com o aspecto do abandono ressaltado
pelas inúmeras pichações deixadas por frequentes visitas de vândalos,
além do que, não há qualquer sinalização que indique a existência das
ruínas e seu valor histórico. O local permaneceu por muito tempo
esquecido, em razão da densa vegetação que escondia por completo as
ruínas. Armando Lichti mandou limpá-las, em 1945, mantendo-as em
condições de acesso e visitação turística. Fez isso enquanto viveu, de
lá para cá, parece-me, nada foi feito. Espera-se que um dia, nos
subterrâneos da burocracia, alguém tropece nos documentos do referido
patrimônio e resolva de vez iniciar os trabalhos de sua recuperação. E
detalhe: não se pode esperar muito por tal tropeço, caso contrário, quem
cai é a Ermida.
Fontes: www.novomilenio.inf/guaruja/gfoto009.htm e site do Ministério Público Federal?SP
Nota: No site do Ministério Público Federal, em Notícias do MPF, há documento disponível, de 25/6/2008, com o seguinte título: MPF/SP recomenda que Iphan preserve patrimônio no Guarujá.
A notícia começa assim: "O Ministério Público Federal em Santos (SP)
recomendou ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan) que apresente, em 45 dias, um relatório com
diagnóstico completo das atuais condições estruturais e dos riscos mais
evidentes de degradação, desabamento ou qualquer outra condição que
cause danos às ruínas do Forte de São Luiz, da Armação da Baleia e da
Capela de Santo Antônio do Guaibê." Sobre o inquérito, diz o Ministério
Público: "Em um inquérito civil, realizado pelo Ministério Público
Federal, foi apurado que o patrimônio arqueológico está em total estado
de abandono, sujeito à ação modificadora e destrutiva por condições
climáticas e de tipologia da vegetação verificada na área. Outro risco
detectado é a ocupação da área por moradores, particulares e populações
caiçaras, inclusive sobre áreas do próprio sítio da Armação das Baleias,
além de pichações. Para o procurador da República Antonio Arthur Barros
Mendes, autor da recomendação, os problemas fundiários ali existentes
em virtude de a área ser composta de terras da União, do estado e do
município e a ocupação das terras por parte de populações caiçaras não
são motivos para que o poder público fique inerte, permitindo a
deterioração progressiva dos bens tombados.'É necessário que o
Iphan assuma a iniciativa de preservação e coordene juntamente com as
autoridades estaduais e municipais o processo de intervenções
necessárias para a preservação do sítio', afirma. A atual
persistência dos órgãos responsáveis pelo patrimônio em manter uma
postura passiva diante dos problemas pode levar os monumentos tombados a
perder suas feições atuais, o que acarretaria em uma maior dificuldade
de manutenção e pesquisa das ruínas e, conseqüentemente, no seu
desaparecimento, com danos irreparáveis à memória da formação da
sociedade brasileira. Consulte: http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias-do-site/meio-ambiente-e-patrimonio-cultural/25-06-08-mpf-santos-recomenda-que-iphan-preserve-patrimonio-no-guaruja/.